sábado, 9 de abril de 2011

Do amor de um velho por uma nova

Há pouco tempo, com uma pessoa amiga, trocava eu impressões sobre um assunto melindroso, mas bastante interessante. Tratava-se de saber se um homem de cinquenta anos pode, ou não, interessar-se por mulheres substancialmente mais novas; e se, porventura, o mesmo pode suceder a uma mulher também próxima dessa idade. A minha amiga, peremptoriamente, defendia a tese de que, no seu caso, isso seria de todo impossível de acontecer, uma vez que não se dignava, sequer, olhar para homens de uma faixa etária muito inferior à sua; nem acreditava que pudesse haver sentimentos e desejos sinceros por parte de um homem mais novo em relação a uma mulher mais velha. Intrigado com o fundamentalismo da sua posição, até porque são conhecidos bastantes exemplos de casais onde ela é mais velha do que ele, concordámos no entanto que é bastante mais comum nos homens o relacionamento com mulheres substancialmente mais novas. Existem, inclusive, homens que, pelos motivos mais variados, querem e desejam mulheres mais jovens do que eles. Todas as sociedades, provavelmente à imagem e semelhança dos indivíduos, vão sobrevivendo num movimento perpétuo de regras e interditos. Convencionou-se que a uma mulher não fica bem juntar-se com um 'puto', mas o contrário não é verdade. Um homem que tenha por companheira uma mulher muito mais nova do que ele, passa para os outros uma imagem de virilidade - é cinquentão mas ainda dá cartas! - e espalha a inveja e a cobiça nos outros homens da sua faixa etária. Existe, também, o facto indesmentível de que as mulheres atingem a maturidade plena muito mais cedo do que os homens - que são bebés até muito mais tarde - e, por via disso, um relacionamento em que ele seja mais velho do que ela, tende a gerar maiores equilíbrios. Fala-se de que as novas procuram nos homens mais velhos os bens materiais que eles lhes possam proporcionar; e então trata-se um relacionamento mercantil que nada tem de indecoroso se ambos estiverem cientes do facto. Diz-se, igualmente, que uma certa franja de mulheres, por terem tido pais pouco afectuosos ou ausentes, sentem desejo por homens mais velhos, na sua efabulação, capazes de as proteger e transmitir o afecto paternal que não conheceram. Mas a objectividade das análises mais expeditas empena sempre em detalhes de somenos e em preconceitos arcaicos. E todos os códigos de conduta, toda a etiquetagem, todas as leis universais, as tendências e as estatísticas, juntas com definições intemporais, esgotam-se, desfazem-se ou diluem-se em novas verdades perante o mistério da paixão. Acreditamos, nesse estado, que não há barreiras, diferenças de idade ou preconceitos, que possam fazer algo contra essa química irreprimível. Acreditamos que esse nosso amor é redentor e o sentido último de todas as coisas e nele encontramos um refúgio e abrigo, tranquilidade e emoção. Queremos acreditar que o nosso amor é perene, intenso para sempre, grandioso e incondicional; e a razão - a execrável racionalidade-, conjuntamente com o pífio preconceito (as diferenças de idade, o que os outros dizem ou pensam, os nossos medos e preconceitos), são simplesmente corridos a pontapé, quais personas non gratas da nossa intensidade  De uma paixão assim, assolapada, por parte de um homem, ou de uma mulher, mais velhos, por alguém substancialmente mais novo, espera-se o mesmo que das outras paixões: um estado de graça que nos conduz a uma loucura privada, muitas vezes consequente, mas que nos guinda a estados de felicidade imensos. Vale sempre a pena pagar o preço. 

Reza o ditado popular: 'homem velho e mulher nova é filhos até à cova'. Será verdade ou mais um mito urbano?

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