quarta-feira, 6 de abril de 2011

Os meus sonhos lindos!

Ultimamente, apesar de andar a dormir bem e não acordar a meio da noite, como dantes me acontecia com alguma frequência, tenho tido sonhos, ou melhor, pesadelos, cuja temática é recorrente. Sonho que o FMI já se instalou em Portugal e nós, os funcionários públicos, deixámos de receber o subsidio de férias e o subsidio de natal; posteriormente, por exigências draconianas do organismo internacional, começámos a receber o vencimento mensal em tranches, até, que por último, o Governo anuncia que já não há verba para pagar os ordenados aos cerca de 700.000 funcionários públicos. O resto da populaça regozija de alegria - há muito tempo verdes de inveja por não terem conseguido entrar para o Estado nos diversos concursos (bastante exigentes e sempre com vagas apertadas, atendendo ao número dos candidatos aos lugares) para a função pública - exige a nossa decapitação. A arraia miúda quer nivelar por baixo: se estamos mal, vamos todos para o fundo. O caos instala-se. Os tribunais deixam de julgar; as policias desistem de investigar os crimes e prender os criminosos; os guardas prisionais não cuidam mais dos presos; os militares deixam de garantir a defesa do Estado e demitem-se das suas obrigações internacionais; os professores nem querem ouvir falar da obrigação de ensinar; as escolas, as universidades e todos os estabelecimentos públicos ligados à educação, fecham as portas; os médicos, os enfermeiros e todos os profissionais de saúde, deixam os doentes padecer e morrer nos hospitais; os funcionários das finanças deixam de cobrar impostos; os funcionários dos registos e do notariado deixam de dar fé pública aos contratos e aos registos; os funcionários dos mais diversos ministérios deixam de se importar com o que quer que seja; e, por último, já nem sequer existem funcionários nos Centros de Emprego e na Segurança Social para dar resposta aos pedidos de subsídio de desemprego, nem quem se preocupe com o exército de desempregados. Por exigência do FMI, privatizam-se 90 % dos organismos do Estado e entregam-se as suas funções a pessoas sem quaisquer conhecimentos ou aptidões O Governo aproveita para aferir como critério de nomeação o serem seus parentes ou estarem filiados no partido reinante. Entretanto, os funcionários públicos, sem ordenados nem subsídios, deixam de cumprir com as suas prestações de crédito à habitação - e outros empréstimos contraídos, na legítima expectativa de ter um vencimento mensal, e, assim, poder honrar os compromissos firmados. O agregado familiar dos 700.000 funcionários públicos, rodando em média três pessoas por família, o que perfaz um universo de 2.100.000 pessoas, de um momento para o outro, torna-se insolvente, incapaz de pagar os créditos contraídos, e deixa de consumir bens de terceira, segunda e até de primeira necessidade - já não têm ordenados nem subsídios! Os Bancos, por sua vez, incapazes de sobreviver com tanto crédito mal-parado, abrem falência e despedem os seus empregados; as empresas fecham as portas e despedem todos os seus funcionários, pois perderam a maioria dos seus bons clientes - os funcionários públicos; os criminosos, sem ninguém que os guarde, fogem das prisões e tomam conta das ruas, estuprando e violando todas as mulheres que lhes apareçam pela frente, assaltando casas e estabelecimentos comerciais, matando indiscriminadamente. Como também não há ninguém que controle a entrada de estrangeiros - os funcionários públicos do SEF há muito que não recebem ordenado - assiste-se à invasão de hordas dos novos 'bárbaros', oriundos de países onde isto já sucedeu, sedentos por aceder ao consumo dos bens que ainda nos restam. As trevas instalam-se em Portugal. Finalmente, o país tem de ser, misericordiosamente, ocupado pela Espanha, que entretanto havia desenterrado a velha questiúncula da União Ibérica. A Lusitânia, recuperando um epíteto anoso, torna-se uma província autónoma da nação espanhola, com um estatuto idêntico ao das Ilhas Canárias; os portugueses, os que ainda restam, aplaudem de pé. É nomeada uma Junta Militar para pôr ordem no país e os políticos profissionais, qualquer que seja o seu partido ou ideologia, e respectivas famílias, são, por decreto, deportados para o Haiti e para a Líbia, a fim de ajudarem na reconstrução dos respectivos países. A Democracia é suspensa até novas ordens.

De manhã, acordo suado e em sobressalto, mas sei que, felizmente, tudo não passou de mais um pesadelo. Mas, na noite seguinte, por artes mágicas insidiosas, o mesmo pesadelo regressa para me atormentar. Será que devo ir ao médico... ou à bruxa? Serão premonições ou apenas suores nocturnos?

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