quarta-feira, 13 de abril de 2011

Em busca de uma empregada doméstica maníaca




A minha casa está suja e em desordem e, felizmente, ou infelizmente, para mim, não padeço de nenhuma desordem mental que me faça limpar compulsivamente. Consciente desse facto, decidi rever os meus parcos conhecimentos do comportamento humano, a fim de poder vislumbrar o perfil mais adequado da senhora das limpezas ideal para trabalhar em minha casa, e que me possa socorrer neste momento de aflição. Procuro alguém muito especial. Uma pessoa que padeça de uma desordem mental aparentada com a Mania, que, como se sabe, caracteriza-se por uma alteração de pensamento e comportamental grave, dirigido, em geral, para uma determinada ideia fixa e com síndrome de quadro psicótico.

Procuro um ser com grande agitação, loquacidade, euforia, insónia, perda da senso crítico, grandiosidade, histrionismo, vontade imparável de trabalhar até à exaustão. Não me contento, de forma alguma, com alguém que tenha umas mariquinhas dumas manias, que nem são propriamente manias, no sentido restrito do termo, tais como alguns costumes exagerados ou caracterizados por alguma fixação, ou repetição exagerada de gestos, entre outras coisas, que não sejam considerados patologia. A minha busca está mesmo centrada em encontrar, o mais rápido possível, uma pessoa com Mania, encarada esta como desordem mental. Mas procuro um tipo particular de Mania. Não quero cá em casa cleptomaníacas – já me chega a última! -, nem agorafóbicas, claustrofóbicas, talassofóbicas, ou com outras Manias pouco frutuosas, de todo não indicadas para as lides domésticas. Procuro, outrossim, alguém cuja Mania se possa manifestar pela repetição impulsiva de limpezas. Sabemos que há pessoas que vivem mortificadas limpando, limpando o que muitas vezes está limpo, vendo sujidade insuportável na mais pequena poeira. A mania das limpezas, que pode conduzir a pessoa ao extremo, de, por mais cansada que esteja, não se deitar para descansar, porque não consegue dormir sem limpar o que a sua mente doente considera menos limpo e sem cumprir os afazeres a que se propôs como necessários ao dia de trabalho doméstico, é a mulher ideal para este período negro ( e sujo) da minha vida. Quero uma mulher mercenária, que limpe e arrume constantemente, numa ansiedade sem tréguas. Sabemos que, na mente destas pessoas, não é o exterior que está sujo, mas as profundezas da sua mente. Limpam afanosamente o exterior, porque na realidade desejam desesperadamente limpar o interior. Mas, no meu caso, modéstia à parte, naquilo que considero uma atitude de grande altruísmo, dou uma chance à candidata eleita para que, limpando a sua mente, aproveite também para limpar o laboratório das suas fantasias, que por acaso seria a minha casa. Mato dois coelhos de uma cajadada: possibilito que a minha empregada dê azo à concretização da sua Mania e fico com a casa num brinco. E, para que se saiba, é por uma empregada doméstica padecendo deste síndrome, que a minha procura se faz incessante. É minha convicção que, atendendo à gravidade do assunto, uma 'normal' já não me pode valer. Penso que elas existem algures ( Yo non creo en muchachas de servicio maníacas, pero que las hay. hay! ) e a minha demanda, que já se alarga  a vários países da Europa, não vai cessar enquanto não encontrar um espécimen com esta doença. Aceito candidatas com esta patologia e também considero as que consigam disfarçar o suficiente, desde que igualmente produtivas. Assim a sorte esteja comigo.



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